quarta-feira, 30 de abril de 2008

O caso Ibsen Pinheiro – quando mil vira um milhão

Valéria Cristina

A Revista Veja trouxe, em sua reportagem de capa de novembro de 1993, uma informação bombástica que seria repercutida por toda a imprensa, causando grande impacto na política e também na sociedade brasileira. O “furo” conseguido pelo jornalista Luís Costa Pinto (Lula), à época editor da revista em Brasília, iria banir para sempre da vida pública um político em plena ascensão e tido como sério candidato do PMDB às eleições presidenciais. O alvo? Ibsen Pinheiro, ex-presidente da Câmara dos Deputados, notabilizou-se pela atuação dos processos de impeachment do ex-presidente do Brasil Fernando Collor de Mello e da CPI do Orçamento, que culminou na cassação dos famosos “anões do orçamento”. Na versão de Costa Pinto, Ibsen Pinheiro também fazia parte da mesma Máfia do Orçamento. Associação feita após a “descoberta” da movimentação de um milhão de dólares nas contas do deputado.


Ibsen foi cassado e o episódio foi discutido e tido como um dos erros mais destrutivos da história recente da imprensa brasileira, comparável somente, talvez, em termos de repercussão e estrago a outro famoso caso, o Escola Base, já relatado aqui.

Onze anos mais tarde, a Veja transforma-se ela própria em notícia após a confissão do mesmo Costa Pinto de que tudo não passava de uma “armadilha” da oposição e de erro sabido, porém não assumido por ele e pela publicação durante todos esses anos. No relato enviado ao próprio injustiçado, o
jornalista acusou Waldomiro Diniz, então assessor do atual ministro José Dirceu (PT-SP), de ter vazado uma “falsa prova”.

Mea-culpa pela metade

No mea-culpa feito pelo jornalista há ainda a admissão de que a revista identificou o erro nas contas de Waldomiro: não seria US$ 1 milhão, mas apenas US$ 1 mil. Mesmo após a constatação do erro, a Veja, com a edição praticamente fechada, decidiu encontrar alguém que sustentasse a versão de US$ 1 milhão, ao invés em vez de simplesmente descartar a reportagem ou ao menos publicar duas versões - a equivocada e a mais bem apurada, retratando a lambança. Coube ao deputado Benito Gama (PFL-BA), membro da CPI, sustentar o erro com a frase: “É fundamental não errarmos nas contas de Ibsen. E não erramos”.

Hoje, como se sabe, todos erraram - fontes e jornalistas. E o fizeram de forma irresponsável e proposital. Ou o jornalista errou na apuração e na confiança cega e ingênua nas fontes sem sequer questionar um possível interesse político no enfraquecimento da imagem de um forte adversário, ou errou por absoluta falta de ética e responsabilidade profissional. No fim das contas, por uma ou outra motivação, não importa, um mea-culpa tardio não devolve a carreira perdida nem repara os problemas causados em todos os aspectos da vida de um injustiçado pela grande mídia.
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