quinta-feira, 1 de maio de 2008

Ficar famoso como projeto de vida – fenômeno ou anomalia da sociedade da informação

Valéria Cristina

Na era da sociedade da informação, surge um outro fenômeno moderno: o da geração de celebridades instantâneas. A notoriedade já foi propriedade exclusiva das estrelas e astros de cinema, dos grandes estadistas, dos reconhecidos talentos das artes em geral, das ciências, da política, do mundo dos negócios e, claro, dos donos das grandes fortunas. Havia sempre talento e capacidade de produção envolvidos no caminho de quem aspirasse ao reconhecimento e à fama.

Hoje, em épocas de verdadeiras epidemias de reality shows pelo mundo, parece bastar ter estômago, literalmente, para comer minhocas e outras iguarias em provas insanas de resistência, tanto para o participante, de olho na fama e nos prêmios milionários, quanto para o telespectador – este último, sem muitas opções de produções de melhor qualidade nas tvs abertas. Nesse verdadeiro vale-tudo pela fama, há também o expediente de “plantar” escândalos na internet. O caso mais comentado dessa natureza é atribuído, sem provas, claro, à socialite americana Paris Hilton, que de anônima herdeira da cadeia de hotéis Hilton passou da noite para o dia ao olimpo das celebridades mais fotografadas, entrevistadas, invejadas, cultuadas e imitadas em todo o mundo. Tudo isso somente por que um antigo namorado da moça gravou e divulgou na rede mundial de computadores uma tórrida noite de sexo com ela. Hoje, super famosa, já lançou perfume com seu nome, atuou em filmes em Hollywood, estreou como cantora, estilista de moda, e, claro, estrelou também um reality show. A marca Paris Hilton gera milhões de dólares por ano por ela ser apenas Paris Hilton.


Infelizmente, nem só de ex-participantes de reality shows ou de socialites entediadas vive o universo cada vez maior de loucos por mídia. Em 30 de março, na cidade americana de Lakeland, na Florida, um grupo de oito adolescentes resolveram alcançar a fama simplesmente espancando uma colega de escola, Victoria Lindsay, de 16 anos, para postar a agressão no site de vídeos YouTube. A sessão de espancamento foi tão intensa que Lindsay chegou a desmaiar quando foi arremessada contra a parede. Como conseqüência, a garota teve vários hematomas, contusão no crânio, perda de parte da audição e ficou tão severamente desfigurada que o próprio pai de Lindsay não a reconheceu no hospital.

As adolescentes e mais dois rapazes foram presos pelo episódio, que abriu discussões sobre o poder de influência desse tipo de mídia sobre os adolescentes e também sobre os valores consumidos pela sociedade atual. Para os pais da vítima, sites como YouTube, MySpace, entre outros, são os maiores culpados pelo acontecido. Segundo Patrick Lindsay, pai de Victoria, esses websites “estão criando espaços para atividades criminosas” (veja entrevista completa com Talisa Lindsay e Patrick Lindsay em inglês) e ele promete ir o mais longe possível para pôr fim a episódios como o que aconteceu com sua filha. Em tempo: o YouTube já retirou o vídeo de seus arquivos, mas o debate parece estar apenas começando.

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