quinta-feira, 1 de maio de 2008

Ética jornalística no Brasil - um (mau) exemplo clássico

Ricardo Goldbach

É impossível escrever sobre ética em comunicação sem que venham à mente os maus exemplos dados no passado por profissionais da área, aqui no Brasil .

O que ficou conhecido como o “Caso da Escola de Educação Infantil Base”, ou o “Caso Base” é um exemplo de como a irresponsabilidade dos meios de comunicação pode arruinar carreiras, empreendimentos e reputações.

Relembrando o assunto

Com base em relatos da mãe de um aluno, os responsáveis pela escola - Maria Aparecida Shimada e seu marido Icushiro Shimada, e o colaborador Maurício de Alvarenga – foram acusados de promover abuso sexual das crianças deixadas sob seus cuidados. A justiça acolheu a denúncia, de forma igualmente irresponsável, e os veículos de comunicação estampavam, à época, manchetes tais como “Perua escolar carregava crianças para orgia” (Folha da Tarde) e “Escola de horrores” (revista Veja).

Ao término do episódio, nenhum policial e nenhum jornalista havia sofrido quaisquer punições. O casal, por sua vez teve sua residência depredada. Os veículos Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, TVs Globo, SBT, Record, Bandeirantes e as revistas Veja e Isto É foram processados por danos morais. A 14 de setembro de 2005 a 7ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo condenou a TV Globo a pagar 450 mil reais a cada uma das três vítimas. O tribunal considerou que a imprensa deve pautar-se pela cautela com a dignidade e a honra das pessoas, e que o direito à informação havia sido transformado em ofensa à dignidade e aos direitos de cidadania das três vítimas. O inquérito foi arquivado, mas a chaga moral de cada um dos acusados não tem como ser curada.

Este caso é emblemático das conseqüências que o mau exercício do jornalismo pode acarretar a terceiros, servindo tanto de caso de estudo quanto de alerta à classe jornalística e aos veículos de comunicação.

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Imagens digitais: portas abertas para fraudes

Ricardo Goldbach

A onipresença das câmeras fotográficas digitais e dos programas de tratamento de imagens é uma poderosa aliada do jornalismo, e o uso desta combinação deu origem a um verbo de uso corrente – “photoshopar”. Um efeito colateral da conjugação deste verbo tem estado, no entanto, a serviço do falseamento da realidade, na busca cotidiana dos repórteres fotográficos pela melhor e mais impactante imagem.

Há poucos anos o meio jornalístico viu-se diante de um escândalo de repercussão mundial, que bem demonstrou o quanto são importantes os limites impostos pela ética e pela lei, quando se trata de refrear o uso da transgressão como instrumento de trabalho. Em agosto de 2006, Adnan Hajj - fotógrafo freelancer libanês a serviço da agência noticiosa Reuters - quis dar mais impacto às fotos que havia feito durante ataques aéreos israelenses ao Libano.

Uma comparação entre as imagens mostra que houve edição grosseira da foto original (à direita), com aumento e escurecimento de uma nuvem de fumaça que saia de um prédio em Beirute, além do encorpamento de uma segunda nuvem.



foto retocada x foto original

Nas fotos abaixo está outra criação de Hajj, desta vez sobre uma foto de um caça F-16 israelense que originalmente liberava um flare - dispositivo de contramedida usado para desorientar termicamente mísseis inimigos. Hajj reproduziu duas vêzes o flare e o rastro de fumaça, e fez constar na legenda que o F-16 havia disparado três mísseis contra a cidade de Nabatiyeh, quando na verdade a aeronave executava manobra evasiva.


O F-16 e o milagre da multiplicação dos flares



Mais evidências do uso da ferramenta "clone" do Photoshop

Como resultado, a Reuters viu questionada a autenticidade do material que distribuia para jornais do mundo inteiro. A agência rescindiu o contrato com o falsificador e revisou, tecnicamente, mais de 900 fotografias previamente submetidas por ele. Após ser desmascarado, Hajj alegou em sua defesa que apenas "tinha tentado remover algumas manchas e riscos das imagens originais", alegando que más condições de iluminação ambiental durante o retoque podem tê-lo levado a cometer os erros apontados.

É importante observar que a montagem somente foi descoberta – e admitida pela Reuters – após uma contundente denúncia feita por Charles Johnson, responsável pelo blog Little Green Footballs. Em seguida, Charles foi ecoado pelo site do Washington Post e por inúmeros outros blogs ao redor do mundo. Se a imprensa é o quarto poder, é bem possível que o webjornalismo independente venha a ser o quinto, com a missão de auditar a fidedignidade da mídia convencional.


Veja mais sobre a "obra" de Adnan Hajj:


. Reuters drops Beirut photographer - BBC News, Londres

. Altered images prompt photographer’s firing - MSNBC

. Bold Distortions and Outright Lies - Blog Honestreporting

. Fotógrafo da Reuters manipula imagens de Beirute - Blog Conexão Digital

. Another faked photo by Adnan Hajj - Blog The Shape of Days

. Adnan Hajj photographs controversy - Wikipedia

. Erro grosseiro do The New York Times alimenta polêmica sobre as fotos da guerra - Wikinews
(o link acima já está funcionando)

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Ficar famoso como projeto de vida – fenômeno ou anomalia da sociedade da informação

Valéria Cristina

Na era da sociedade da informação, surge um outro fenômeno moderno: o da geração de celebridades instantâneas. A notoriedade já foi propriedade exclusiva das estrelas e astros de cinema, dos grandes estadistas, dos reconhecidos talentos das artes em geral, das ciências, da política, do mundo dos negócios e, claro, dos donos das grandes fortunas. Havia sempre talento e capacidade de produção envolvidos no caminho de quem aspirasse ao reconhecimento e à fama.

Hoje, em épocas de verdadeiras epidemias de reality shows pelo mundo, parece bastar ter estômago, literalmente, para comer minhocas e outras iguarias em provas insanas de resistência, tanto para o participante, de olho na fama e nos prêmios milionários, quanto para o telespectador – este último, sem muitas opções de produções de melhor qualidade nas tvs abertas. Nesse verdadeiro vale-tudo pela fama, há também o expediente de “plantar” escândalos na internet. O caso mais comentado dessa natureza é atribuído, sem provas, claro, à socialite americana Paris Hilton, que de anônima herdeira da cadeia de hotéis Hilton passou da noite para o dia ao olimpo das celebridades mais fotografadas, entrevistadas, invejadas, cultuadas e imitadas em todo o mundo. Tudo isso somente por que um antigo namorado da moça gravou e divulgou na rede mundial de computadores uma tórrida noite de sexo com ela. Hoje, super famosa, já lançou perfume com seu nome, atuou em filmes em Hollywood, estreou como cantora, estilista de moda, e, claro, estrelou também um reality show. A marca Paris Hilton gera milhões de dólares por ano por ela ser apenas Paris Hilton.


Infelizmente, nem só de ex-participantes de reality shows ou de socialites entediadas vive o universo cada vez maior de loucos por mídia. Em 30 de março, na cidade americana de Lakeland, na Florida, um grupo de oito adolescentes resolveram alcançar a fama simplesmente espancando uma colega de escola, Victoria Lindsay, de 16 anos, para postar a agressão no site de vídeos YouTube. A sessão de espancamento foi tão intensa que Lindsay chegou a desmaiar quando foi arremessada contra a parede. Como conseqüência, a garota teve vários hematomas, contusão no crânio, perda de parte da audição e ficou tão severamente desfigurada que o próprio pai de Lindsay não a reconheceu no hospital.

As adolescentes e mais dois rapazes foram presos pelo episódio, que abriu discussões sobre o poder de influência desse tipo de mídia sobre os adolescentes e também sobre os valores consumidos pela sociedade atual. Para os pais da vítima, sites como YouTube, MySpace, entre outros, são os maiores culpados pelo acontecido. Segundo Patrick Lindsay, pai de Victoria, esses websites “estão criando espaços para atividades criminosas” (veja entrevista completa com Talisa Lindsay e Patrick Lindsay em inglês) e ele promete ir o mais longe possível para pôr fim a episódios como o que aconteceu com sua filha. Em tempo: o YouTube já retirou o vídeo de seus arquivos, mas o debate parece estar apenas começando.

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O desafio da ética do jornalismo digital na sociedade da informação

Valéria Cristina

Não existe melhor classificação que poderíamos dar a nós mesmos nesse frenético, veloz e conturbado período em que vivemos do que a já existente: sociedade da informação. Somos bombardeados por todos os lados com o auxílio de inúmeros “brinquedos” tecnológicos que nos asseguram a conexão – ou para muitos, a submissão - ao mundo virtual em qualquer hora, de qualquer lugar. A Internet iniciou esse processo que não pára de crescer. Aliás, crescimento na área de informação, como vários especialistas já decifraram, tem algumas peculiaridades que não estão atreladas a nenhuma regra rígida e conhecida de mercado, como oferta e demanda. O que torna a Internet importante não é a escassez de oferta, como seria comum perceber nos mercados de bens materiais. É exatamente o caráter democrático, de livre acesso e de baixo custo, responsáveis por atrair milhões de usuários/consumidores, que torna o meio e o que é veiculado nele valiosos.

Atualmente, qualquer pessoa pode ter um blog, postar notícias, participar de fóruns de discussão, criar comunidades sobre qualquer assunto, organizar um mailing de contatos de e-mail, baixar músicas, filmes, até de se tornar um colaborador de um software de produção aberta, caso tenha talento, tempo livre e conhecimento para tanto, entre as milhares de possibilidades de relações do mundo digital de interações em escala global. Como fica a questão da ética nesse contexto em que somos ao mesmo tempo produtores e consumidores de conteúdo, emissores e receptores das notícias e com total controle da mídia utilizada? Não somos mais os passivos leitores/ expectadores das mídias tradicionais. Como fica a questão dos direitos autorais? A checagem dos fatos noticiados? Podemos acreditar em todas as informações recebidas nas nossas caixas de e-mail ou nos milhões de blogs existentes? Como identificar fontes confiáveis?

Sem dúvida, há ainda muitas perguntas sem respostas, mas para alguns teóricos da comunicação esse caminho sem volta aberto pela internet pode representar a possibilidade atual do jornalismo retornar ao seu status de quarto poder de seu início quando cumpria, entre outros objetivos, o papel de zelar e fiscalizar o bom andamento dos outros poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. O jornalista Ignacio Ramonet, diretor do Monde Diplomatique e Professor de Teoria da Comunicação em Paris, Santiago de Compostela e em Madri, faz um convite para que os jovens jornalistas utilizem a “brecha digital” com este objetivo. Segundo ele, é preciso que o jornalismo volte a estar “a serviço da sociedade, e não contra ela, como vem ocorrendo no mundo globalizado”. O especialista critica a estrutura atual em que grandes grupos empresariais detêm muitas vezes mais poder que muitos países. Não são apenas multinacionais, são conglomerados globais.

A notícia, nesse contexto, também, foi transformada em mercadoria como qualquer outra. Há, ainda, a concentração da informação nas mãos de poucos, porém, gigantescos grupos de comunicação. O que pode ser tão nocivo quanto a divulgação de noticiais oficiais de governos totalitários. Nos Estados Unidos, uma mesma organização empresarial de comunicação, a Clear Channel detém o maior número de estações de rádio na terra do Tio Sam - mais de 1100. Isso altera inclusive o aspecto de identidade regional já que todo conteúdo acaba pausterizado e fornecido de forma global. Somente a título de (mais) informação, a badalada gravadora Live Nation, que acabou de contratar por 120 milhões de dólares a cantora pop Madonna, surgiu como um braço da mesma Clear Channel, em 2005. A Clear Channel, com seu grande monopólio no setor de radiodifusão dos Estados Unidos, passa por maus momentos, atualmente. Ela sofre um processo na Justiça americana por aumentos abusivos de ingressos de shows, usando exatamente o poder de divulgação dos trabalhos dos artistas em suas rádios para pressioná-los a elevarem os valores cobrados por suas apresentações produzidas pelo conglomerado.

Mesmo no Brasil, em escala um pouco menor se comparado a outros países, há casos de monopólio de grupos, que produzem jornais, rádios, tvs, internet. Nesse grande cardápio de opções, a notícia virou parte coadjuvante. O mais importante são as vendas ou mais do que isso, são a audiência, os números de acessos, tudo o que possa atrair os cobiçados anunciantes, não importando nesse caso a qualidade ou importância da notícia veiculada. Para Ramonet e outros teóricos, é neste paiol de interesses que se dá a confusão entre difusão da notícia e espetáculo. Mais do que informar, educar, ou formar opiniões, o jornalismo produzido por esses grandes grupos, em especial para tv e rádio, quer é entreter, sem esquecer, claro, das vendas nos breaks comerciais.

A internet seria, então, uma resposta a esse quadro, segundo Ramonet. O jornalista de posse dessa nova, democrática, barata e interativa mídia digital pode ser a promessa para a redescoberta do bom, honesto, bem feito jornalismo de resistência, com credibilidade.

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quarta-feira, 30 de abril de 2008

O caso Ibsen Pinheiro – quando mil vira um milhão

Valéria Cristina

A Revista Veja trouxe, em sua reportagem de capa de novembro de 1993, uma informação bombástica que seria repercutida por toda a imprensa, causando grande impacto na política e também na sociedade brasileira. O “furo” conseguido pelo jornalista Luís Costa Pinto (Lula), à época editor da revista em Brasília, iria banir para sempre da vida pública um político em plena ascensão e tido como sério candidato do PMDB às eleições presidenciais. O alvo? Ibsen Pinheiro, ex-presidente da Câmara dos Deputados, notabilizou-se pela atuação dos processos de impeachment do ex-presidente do Brasil Fernando Collor de Mello e da CPI do Orçamento, que culminou na cassação dos famosos “anões do orçamento”. Na versão de Costa Pinto, Ibsen Pinheiro também fazia parte da mesma Máfia do Orçamento. Associação feita após a “descoberta” da movimentação de um milhão de dólares nas contas do deputado.


Ibsen foi cassado e o episódio foi discutido e tido como um dos erros mais destrutivos da história recente da imprensa brasileira, comparável somente, talvez, em termos de repercussão e estrago a outro famoso caso, o Escola Base, já relatado aqui.

Onze anos mais tarde, a Veja transforma-se ela própria em notícia após a confissão do mesmo Costa Pinto de que tudo não passava de uma “armadilha” da oposição e de erro sabido, porém não assumido por ele e pela publicação durante todos esses anos. No relato enviado ao próprio injustiçado, o
jornalista acusou Waldomiro Diniz, então assessor do atual ministro José Dirceu (PT-SP), de ter vazado uma “falsa prova”.

Mea-culpa pela metade

No mea-culpa feito pelo jornalista há ainda a admissão de que a revista identificou o erro nas contas de Waldomiro: não seria US$ 1 milhão, mas apenas US$ 1 mil. Mesmo após a constatação do erro, a Veja, com a edição praticamente fechada, decidiu encontrar alguém que sustentasse a versão de US$ 1 milhão, ao invés em vez de simplesmente descartar a reportagem ou ao menos publicar duas versões - a equivocada e a mais bem apurada, retratando a lambança. Coube ao deputado Benito Gama (PFL-BA), membro da CPI, sustentar o erro com a frase: “É fundamental não errarmos nas contas de Ibsen. E não erramos”.

Hoje, como se sabe, todos erraram - fontes e jornalistas. E o fizeram de forma irresponsável e proposital. Ou o jornalista errou na apuração e na confiança cega e ingênua nas fontes sem sequer questionar um possível interesse político no enfraquecimento da imagem de um forte adversário, ou errou por absoluta falta de ética e responsabilidade profissional. No fim das contas, por uma ou outra motivação, não importa, um mea-culpa tardio não devolve a carreira perdida nem repara os problemas causados em todos os aspectos da vida de um injustiçado pela grande mídia.
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Ética no jornalismo online

Georgia de Mattos

O jornalismo digital surgiu no Brasil no ano de 1995, o que transformou esse veículo de comunicação, devido ao acesso a melhores instrumentos de trabalho pelo jornalista. Contudo, vale lembrar que naquela época, poucas pessoas possuíam um computador ou sabiam usá-lo.

Com o advento do avanço tecnológico, pode-se dizer que, hoje, aproximadamente 2 milhões de pessoas preferem a informação on-line à impressa, devido à sua rapidez e atualização minuto a minuto.

É importante lembrar que os periódicos impressos também se utilizam das informações on-line, devido à sua rápida atualização. Entretanto, não se pode esquecer de que muitas dessas informações são inverídicas, devido à falta de tempo do jornalista para apurar os fatos, o que não o isenta, todavia, de estar ferindo o artigo 4°, Capítulo II do Código de Ética do Jornalismo, princípio fundamental a ser seguido por esses profissionais e empresas veiculadoras de notícias, que reza: “O compromisso fundamental dos jornalistas é com a verdade no relato dos fatos, razão pela qual ele deve pautar seu trabalho pela precisa apuração e pela sua correta divulgação”.

O descumprimento da norma pelo jornalista, que age de forma anti-ética ao manipular notícias, seja através de texto ou de foto-montagem, denigre não só a sua imagem, como também a do veículo de comunicação que o contratou, não se podendo justificar tal ato pela falta de tempo para a apuração da realidade dos fatos.

Uma das mais freqüentes “vítimas” são as pessoas famosas, tais como políticos e artistas, esportistas, entre outros, constantemente atingidos pela publicações de fatos duvidosos, assim como por montagens feitas em computador, o que pode ocasionar processos com pena de dano moral para o jornalista e para a empresa à qual presta serviço.

Casos concretos, porém não totalmente apurados, também são constantemente noticiados na Web, sem que seja confirmada a veracidade dos fatos ao internauta, como no caso do acidente com o vôo 3054 da TAM, maior acidente aéreo do país, ocorrido em 17 de julho de 2007. Na apuração do evento, os jornalistas não se preocupavam em apurar a veracidade dos fatos informados na Web, por alegação de falta de tempo hábil para fazê-lo.

O profissional da imprensa deve, como todo aquele que trabalha com meios de comunicação, lembrar-se de que sua função é informativa e que para cumprir bem seu papel, deve expor apenas a veracidade dos fatos, respeitando assim o seu público.

Já no caso do acidente do BOEING 737-800 da GOL, foi demonstrado maior amadurecimento ético dos jornalistas on-line, que começaram a se basear em dados basilares para melhor informar os internautas.

Hoje, no caso da menina Isabella Nardoni, morta em 29 de março do corrente ano, os jornalistas, inclusive aqueles que trabalham on-line, estão agindo de forma ética em seu ofício, transmitindo apenas a informação à qual têm acesso, permitindo, inclusive, que o pai e a madrasta da menina se pronunciassem em entrevista, sem emitir juízo de valor.

Pode-se dizer, portanto, que jornalismo, principalmente on-line, e ética estão interligados, tornando-se, basicamente, uma coisa só e parece que esses profissionais estão começando a entender isso.


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Publicidade sem ética: conseqüências

Georgia de Mattos

A Lei 9.294/96 restringe a permissão da propaganda de bebidas alcoólicas para aquelas que contenham até 13 GL e que sejam veiculadas no rádio e TV apenas no horário entre 21:00 horas e 06:00 horas. A Lei permite, entretanto, que tal propaganda seja apresentada em um prazo de poucos segundos nos mesmos meios de comunicação durante o horário nobre.

Esta proibição não atinge a propaganda de vinhos e cervejas, cujos responsáveis demonstram, a cada dia, maior criatividade em seus trabalhos.


Vale lembrar que, uma vez vivemos em um país de clima tropical, a cerveja e o chopp geladinho já são as bebidas alcoólicas mais desejadas pelos consumidores, sendo portanto aquelas em que o fabricante mais investe verba publicitária.

As agências usam em seus trabalhos artistas famosos, como Juliana Paes, Zeca Pagodinho e outros, em momentos alegres, festas rave, relacionando a bebida à mulher sensual, o que aguça ainda mais o desejo pela bebida, principalmente pelo público masculino, seja pela sede, pela fantasia, ou, principalmente, pela auto-afirmação. Dessa forma, atinge um grande público cada vez mais jovem, que associa a bebida a conquistas afetivas e realizações, sem pensar nas conseqüências de seus atos.

É bem verdade que o mercado publicitário não vende o produto, mas sim o sonho, porém é importante lembrar que o trabalho não deve ultrapassar os limites da ética profissional, o que, infelizmente, está acontecendo com os comerciais daqueles produtos. Dessa forma, as agências ferem um principio basilar da norma publicitária: respeito ao consumidor, pois aguçam a ânsia do seu publico por “uma gelada”, sem se preocupar em alertá-lo sobre as conseqüências que o seu consumo pode trazer.

Vale lembrar ainda, que, a cada dia que passa, a cerveja é consumida cada vez mais cedo (a partir dos 10, 11 anos), e em altas doses, em busca, como dito anteriormente, da auto-afirmação perante os amigos e as “gatinhas”. Tudo isso acontece devido à falta de ética dos publicitários que elaboram tais campanhas sem se lembrar do limite educativo exigido para a execução desse trabalho, o que vem gerando, cada vez mais, conseqüências gravíssimas, tais como: brigas com mortes, acidentes no trânsito - muitos com mortes, conflitos domésticos, entre outros.

Em razão de tal comportamento, existem diversos projetos de lei no sentido da proibição da veiculação de comerciais de cerveja no rádio e TV tramitando no Congresso Nacional, o que vem agradando boa parte da sociedade.

Está na hora de as agências se lembrarem de que os meios de comunicação mexem com o imaginário humano e de, principalmente, aplicarem a ética na elaboração de comerciais, antes que uma lei proibitiva da exibição de comerciais de cerveja seja sancionada e publicada no Diário Oficial.

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O caso dos notebooks dos Ministros do STF

Ricardo Goldbach

Um caso de flagrante abuso ético no exercício do jornalismo, no afã de se registrar a melhor imagem e o melhor texto, é o do instantâneo obtido por um foto-jornalista durante sessão do STF.

O repórter fotográfico Roberto Stuckert Filho, do jornal O Globo, registrou a imagem da tela do notebook do ministro Ricardo Lewandowski enquanto este mantinha um chat com a ministra Carmem Lúcia, através do sistema interno do STF. No texto fotografado o ministro comentava que estava propenso a aceitar apenas parte da denúncia em pauta naquela ocasião.

O repórter extrapolou os limites da ética e do direito ao invadir a privacidade de um personagem da República cujo cargo, por si só, já seria merecedor da mais elevada demonstração de respeito.

É possível a argumentação, favorável ao fotógrafo, no sentido de que o ministro encontrava-se em local público e sabidamente exposto aos olhares dos circunstantes. O repórter, no entanto, lançou mão de uma combinação de malícia com um recurso técnico específico - uma lente que "vê" mais do que um olho humano consegue alcançar - para ter acesso a uma comunicação eletrônica. A Constituição da República Federativa do Brasil reza, no inciso XII do artigo 5, que "é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas". Assim, ao exercer seu direito de informar a sociedade sobre algo que ele julgava relevante, o repórter optou por infringir a lei maior da nação.

A justiça tem seus mecanismos de comunicação com a nação, por meio da publicação de informações em veículos oficiais de comunicação, e não cabe a um jornalista entrar na intimidade de uma conversa privada, seja ela mantida por que meio for, para vender o fruto de sua invasão na primeira página de um jornal.

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